Tuesday, September 11, 2018

Digressões pretenciosas sobre o amor ...

Termino de ler " cartas a D " de André Gorz. Ele escreveu o livro em homenagem a sua mulher com quem viveu por mais de 50 anos. O final desta história? suicidaram-se em 22 de setembro de 2007. Já com o livro publicado na França, o casal foi encontrado morto, de mãos dadas na cama e deixado várias cartas para amigos, polícia e imprensa. Estamos no mês da prevenção ao suicídio, e coincidentemente termino essa leitura neste mês. O livro inicia com uma profunda declaração de amor: " Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher " André Gorz durante todo o livro se questiona por qual motivo sua amada não estava presente nas histórias de seus livros anteriores como a mulher forte e independente que era, e sim como uma mulher frágil e dependente. Ele faz uma digressão da história de sua vida com Doline, e conclui como ela fôra essencial na sua vida e continuava sendo importante ao seu lado, porém, não quer vê-la morrer antes dele. A questão de gênero está bem presente nesta obra, a mulher submissa que por anos acompanhava seu marido silenciosa, como uma sombra, dando-lhe a assistência necessária em tudo para que ele pudesse viver a sua vida da forma mais digna e feliz, alguns dirão, era coisa da época, eu diria, isso continua até hoje e em alguns lugares é totalmente uma questão cultural. E, baseado nisso eu me pergunto, quem teve a idéia do suicídio? Quem romanceou morrer de mãos dadas na cama com sua amada? quem a matou? Doline encontrava-se doente, e André não suportava mais a dor de vê-la sofrer, e repito Não suportava mais a dor de vê-la sofrer. Isso me faz pensar a quantidade de pessoas que matam por não suportarem mais a dor do sofrimento próprio. Enfim, o livro não é uma história de amor, possui muitas nuances na questão do egoísmo, da ignorância, dos costumes da época, de política e até mesmo do motivo pelo qual alguém resolve suicidar-se. Vale a leitura e a interpretação dessa obra que vendeu e fez tanto sucesso, tão somente pelo fato do autor ter se suicidado. Fica a dica !

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